- Nana
- 27 de out. de 2023
- 4 min de leitura
Atualizado: 6 de dez. de 2023
meu maior sonho? participar do hooptober! Todo outubro é a mesma coisa, com a iminente chegada do dia das bruxas, as pessoas começam a engajar em eventos de terror. Seja ele o inktober ou o hooptober, todo outubro acontecem coisas quais eu não consigo participar. Não que eu seja a maior vítima de FOMO do mundo, mas as vezes gostaria de dizer que também andei vendo filmes de terror, coisa que parece impossível, levando em conta que até hoje tenho um certo medo do chucky. Por isso tenho insistido em ver filmes de terror que não vão tirar o meu sono já pouco existente e resolvi fazer uma lista para nós, mulheres medrosas de todo o mundo, podermos sentir que estamos #fazendoparte.

tw: meu maior medo de infância, o boneco assassino chucky. garota infernal
É sobre uma querida que se torna uma succubus e começa a matar uns caras e por isso eu queria muito ver esse filme, muito, muito, muito, mas como já disse: sou medrosa. Vi pela primeira vez esse ano e foi muito legal. Assisti de tarde, o horário oficial de ver filme de terror se você é medrosa, e depois assisti muito romance para aliviar meu cérebro de tanto horror que eu tinha acabado de ver! Não me deixou muito amedrontada e eu diria que foi até uma experiência divertida.

assustada? não! com tesão? talvez. m3gan
M3gan, a robô que serve cunt! E talvez por isso eu seja líder do fã clube desse aqui! Amo, amo, amo esse! Foi divertido, engraçado, muito camp e os sustos foram leves, que é tudo que eu, medrosa, procuro em um filme de terror. Meu marido, que é alguém que gosta muito mais de filmes de terror, achou péssimo. Eu me diverti, ri bastante e me senti corajosa no fim do dia. MAS!!! Assim, eu diria que, num geral, M3gan é um filme bom? Não! Mas é muito camp! e eu adorei.

quebra tudo, taylor swift!!!! gremlins
Amo esse filme sobre bichinhos que botam pra quebrar!!!! Para minha felicidade, descobri que esse pode ser considerado um filme de terror! E esse é um dos meus filmes favoritos, então fica aqui essa dica: assista gremlins, ame esse e, quando te perguntarem qual seu filme de terror favorito, responda gremlins! Gremlins é tipo o meu peanuts pessoal, apesar de peanuts já ser o meu peanuts pessoal, eu amo tanto e sou obcecada por eles. Uma época, cheguei a pensar em comprar um gremlin em tamanho real pra minha casa. Gremlins é divertido, tem momentos de tensão e até rola uns sustos, mas nada que tenha me impedido de dormir.

essedois.com, com o que posso ajudar? carrie Eu estaria me traindo se eu não colocasse carrie nessa lista! Apesar de ser super batido, tanto que nem vou escrever uma sinopse pra esse, só vou dizer que amo demais Carrie. Dai você deve estar se perguntando, qual dos quatro adaptações de carrie você tá falando? QUALQUER UMA! Escolha a que mais te agrada e veja alguma. Eu amo carrie, acho tudo e adoro, tem a temática adolescente, a mãe terrível, um baile, tudo que eu procuro num filme! Vi a maioria das adaptações e não me dá medo. Gosto bastante desse, de verdade.

a mãe da carrie me lembra a minha mãe! suspiria (1977)
Tem balé, mas também tem bruxaria! Eu adoro esse! É tão, tão lindo! diria que, nessa lista, suspiria é o que dá mais medo mas, apesar de medrosa, não acho que suspiria dê um medo intankável! e também foi bem gostoso de ver. É um filme muito bonito visualmente e me deixou toda quero-fazer-ballet das ideias. Suspiria (1977) é um filme esquisito, teatral e interessante, tudo que uma garota deve ser! Apesar de suspiria ser, na verdade, um filme. eu friso bastante que estamos falando do filme de 77, do argento, porque o do 2018 me fez dormir, igual tudo que o luca guadagnino já fez e eu vi.

indo acender um cigarrinho! A trilogia Eastrail 177 ou trilogia corpo fechado
Eu gosto muito desses! Não acho que sejam os filmes mais assombrosos do mundo, são filmes de super herói de certa forma, mas é um terrorzinho que dá pra aguentar. Vi os tres filmes e gosto muito de todos, sendo fragmentado o que eu menos gosto. Não me senti muito perturbada e nem tive pesadelos, ou seja, 10/10 para medrosas. Além disso tudo, é um filme do shyamalan, o que adiciona um quê cinéfilo a experiência. Tudo para nós mulheres que amamos nos sentir consumidoras da arte.

apenas um eboy do tuiter. corra!
Esse é sobre os horrores de palmitar. Me senti muito orgulhosa quando percebi que gosto desse aqui! Na primeira vez que eu vi não me deixou 100% assombrada, mas! Tentei ver uma segunda vez com meu ex-namorado em porto alegre e percebi que eu estava longe da minha família, convivendo com pessoas com comportamentos totalmente diferentes do que eu tava acostumada e que eram brancas, daí fiquei perturbada e não consegui passar dos primeiros 30 minutos. Então, posso dizer que, apesar da minha primeira experiência com corra! não ter me deixado tão perturbada assim, esse é definitivamente um filme de sentir medo, também é um filme de pensar! que, podemos concordar, não deixa de ser uma coisa que dá medo. Odeio pensar.

eu e meu ex-namorado. beijos, rodrigo! Enfim! foram 7 indicações! escrever essa lista foi difícil porque, enquanto mulher medrosa™ que vive cercada de pessoas fãs de terror, recebi várias recomendações sobre os filmes que deveriam estar aqui, mas recomendação de terror pra quem GOSTA de terror é o que mais se tem por aí. Eu, mesmo na minha condição de filhotinha assustada, poderia indicar vários outros, esses que eu até tentei ver e não aguentei, tipo halloween, do carpenter, que eu já estou na estou na terceira tentativa, ou pânico, que estou lá pela quarta tentativa, mas essa não é a proposta dessa lista. Espero que assistam as minhas recomendações, me deem sugestões de filmes e que comentem sobre os filmes daqui comigo! Eu prometo responder! Aproveitando esse texto pra convidar vocês a participarem do nosso canal no discord, onde eu costumo passar boa parte do meu tempo falando bobeira, fazendo fofoca e jogando.
- Fer
- 19 de out. de 2023
- 4 min de leitura
Atualizado: 27 de out. de 2023
Ah. Eu entendi agora.

Minha relação com meu pai sempre foi estranha. Ele é um cara meio estranho. Muito alto, diferente da família de pigmeus que eu tenho por parte de mãe; muito quieto, diferente do lado materno barulhento; muito distante, diferente dos laços emaranhados e calorosos que me criaram.
Ainda assim, eu não consigo lembrar de uma única briga que tivemos durante minha juventude. Nunca tivemos intimidade o suficiente nem para desentendimentos. Era uma cordialidade civilizada, em que as mágoas de seus sumiços eram devidamente compartimentalizadas e eu continuava desempenhando meu papel de filha educada e amável.
Não eram ruins esses encontros esporádicos. Me drenavam um pouco, acho, porque os silêncios eram frequentes e desconfortáveis, então cada neurônio ao meu dispor era usado incansavelmente para ser uma metralhadora de curiosidades e piadinhas. A voz do meu pai é baixa e grave, por vezes incompreensível, então a necessidade de falar ininterruptamente era ainda mais urgente.
Os piores momentos não eram esses monólogos compulsórios, no entanto. Eram os breves clarões que deixavam evidente, incontornável, o elefante na sala que eu estava me esforçando tanto para ignorar. Esses clarões vinham no formato de presentes. As visitas eram tão esporádicas que se acumulavam essas datas comemorativas e, para meu horror, eu me via com dois, três embrulhos em mãos. Uma camisa do Botafogo (tinha horror a futebol). Um livro de uma escritora teen (que eu particularmente odiava). Um kit de maquiagem (até hoje não sei fazer um delineado). Um perfume (intragavelmente doce). Um livrinho de preces (fui a criança mais gentia já vista).
Eram nesses momentos que eu esquecia as falas da minha peça. Só eu sabia da ofensa cometida, da evidência que éramos completos desconhecidos não importa o quanto eu tentasse condensar no meu discurso tudo de mim que ele não via.
E nesse borrão de cortes de papel e decepções cotidianas teve um episódio que finalmente me fez realizar a natureza daquela relação. Não foi exatamente uma surpresa, porque era terrivelmente óbvio, mas o momento que a situação se tornou inegável. Eu tinha 14 anos.
Não o via há uns dois anos: agora que ele morava em outro estado, casado e com dois enteados e uma filha bebê, havia uma desculpa sólida para desaparecer. No entanto, aqui ele estava, com a família nova completa no apartamento da minha vó. E eu continuei no meu modus operandi tirado de um livro de etiqueta. A adolescência tinha me deixado menos tagarela e mais soturna, e eu sempre andava com um livro debaixo do braço para justificar meu silêncio.
Pedi licença e me retirei daquela sala de estar, barulhenta com meus meio-irmãos infestados de piolho correndo de um lado pro outro. Levei meu livro para a suíte de minha avó, com a desculpa de ir lavar o cabelo. Assim que via aquelas crianças eu sentia coceira, não sei se justificada ou só de nervoso mesmo.
Meus banhos sempre foram demorados. Quando estava com aquela família então, se tornavam uma epopeia. Estar sozinha e em silêncio era uma dádiva rara nessas visitas, e por mais que fosse o primeiro dia dos sete que eles passariam no Rio, eu já tinha me esgotado de representar meu papel. Abri o chuveiro quente. Fiquei sentada no vaso olhando os azulejos de gosto questionável, cor de goiaba, cheios de floreios e rosas brancas. O espelho embaçava. Li os rótulos das dúzias de cosméticos caros que ocupam a bancada. Lá fora continua barulhento como sempre, mas pouco importa.
Misturei todos os shampoos, condicionadores e máscaras capilares. Todos os sabonetes, esfoliantes e óleos corporais. O rebuliço da sala parecia só aumentar, mas estava muito ocupada no meu spa pessoal. Fechei o chuveiro, me enrolei nas toalhas felpudas da minha vó e comecei a perceber uma eletricidade incomum no ar.
Não são só os guinchos das crianças e sermões de adultos. Eu ouvia a voz do meu pai. O homem só fala em murmúrios que parecem arrotos reprimidos e eu ouvia ele esbravejando. E a voz da minha avó, estridente, o que também é bizarro. Ela não é uma mulher de barracos, mas de passivo-agressividade e micro agressões. Sento na cama e leio alguns capítulos do meu livro. Devo ter passado umas duas horas trancada naquele quarto antes de finalmente vestir uma roupa e contar as baixas da terra arrasada que era aquela reunião de família.
As crianças estão quietas, todas sentadas no sofá com as bagagens empilhadas em sua frente. A porta da frente está aberta e minha madrasta me encara com uma expressão de pena e cansaço. Diz que meu pai e minha vó brigaram. Diz que eles estão voltando pro Espírito Santo. Diz que meu pai está lá embaixo colocando o bebê conforto de volta no carro alugado. Diz que ela acha tudo maluquice, que ela e as crianças estão cansadas mas ele é resoluto. Diz que sente muito.
A partir daí eu não tenho a mínima ideia do que os adultos falaram para mim. E também não tenho muita consciência da minha reação, faltava esse capítulo no meu livrinho de etiqueta. Só lembro vividamente de descer com as crianças, sentir um beijo do meu pai na bochecha enquanto ele dava partida no carro e ia embora. Passamos umas seis horas juntos depois de dois anos. Sabe Deus quando eu iria vê-lo de novo.
O que me choca é que eu não briguei, não xinguei, não protestei. Não denunciei a completa insanidade que era aquela família. Quando me deitei na rede da varanda e coloquei no fone o metal mais deprimente do meu MP3 player, eu senti frustração, abandono, fúria. E alívio.
Minha semana de tortura acabava de ser cancelada, mas eu também tinha a prova irrefutável da sua completa indiferença. E eu não conseguia ignorar ou compartimentalizar essa mágoa mais.